40 anos de 25 de Abril, 2014
No
giro anual do tempo que passa, há datas que ficam, que perduram. O 25 de Abril
é uma delas. Está inscrita em caracteres inolvidáveis no calendário de honra da
nossa História. Pertence de pleno direito ao número reduzido de efemérides
nunca efémeras e para sempre a assinalar pela Nação Portuguesa.
Manuel
Alegre escreveu este pequeno poema
«Foram dias foram anos a esperar por
um só dia.
Alegrias. Desenganos.
Foi o tempo que doía com seus riscos e
seus danos.
Foi a noite e foi o dia na esperança
de um só dia».
Ao
romper da aurora o dia desabrochou cravos nos canos das espingardas. A matina
fez-se vermelha como todas as que anunciam um grande dia.
O
vento arrastou a voz de Zeca Afonso pondo no ar músicas de que a ditadura não
gostava. Grândola Vila Morena foi escolhida como hino dos que a partir
desse dia já podiam gritar.
No
Rádio Clube, os militares do MFA desdobram-se em explicações à população sobre
um país feito de novo. Sobre a democracia e liberdades.
Foi um dia diferente num país onde nada acontecia.
Recordemos que depois da inauguração da “ponte”, o maior acontecimento nacional
até 25 de Abril de 1974 foi o aumento da “bandeirada dos táxis” de 1$50 para
2$00.
Foi a partir desse dia que se ouviram muitas
palavras novas: Fascismo; Ditadura; Democracia; Latifúndio; Monopólio;
Eleições; Revindicações…
Um
ano depois, a 25 de Abril de 1975, os portugueses votaram pela primeira vez em
liberdade desde há muitas décadas.
Dois
anos depois de avanços e conquistas democráticas, a 2 de Abril de 1976 foi aprovada
a nova Constituição da República.
Hoje, 40 anos depois desse Abril, para os mais jovens será difícil
imaginar o que era viver nesse Portugal, onde rara era a família que não tinha
alguém a combater em África, o serviço militar durava quatro anos, a expressão
pública de opiniões contra o regime e contra a guerra era severamente
reprimidas, os partidos e movimentos políticos se encontravam proibidos, as cadeias
políticas cheias, os oposicionistas exilados, os sindicatos controlados, a
greve interdita, o despedimento facilitado, a vida cultural vigiada. Um país com polícia política, com censura,
com eleições que eram “farsas”, com gente a passar fome ou a passar a fronteira
para a enganar. Com um a taxa de analfabetismo superior a 50%, principalmente
no interior e aumentando nas pessoas do sexo feminino. Onde a televisão chegava
apenas a uma minoria e a maioria do território nem sequer electricidade ou água
canalizada conhecia. Com o maior índice de mortalidade infantil da Europa e
mais um longo o rol de faltas e falhas.
40 anos depois, propositadamente ou
não, esbate-se a história sobre o que o 25 Abril foi e significou. Vão
desaparecendo as conquistas sociais, os direitos e garantias dos trabalhadores,
as empresas públicas, os serviços para as populações. O regime democrático, a democracia, a liberdade, a paz, o
desenvolvimento de Portugal são postos em risco.
Hoje, 40 anos depois, não podemos negar ou falsificar a
história, branqueando a ditadura de Salazar e Caetano.
Hoje, 40 anos depois, as comemorações dos 40 anos de Abril
celebram a Revolução de Abril que pôs fim a 48 anos de ditadura fascista. Os
valores da Revolução de Abril criaram profundas raízes na sociedade portuguesa
e projectam-se como realidades, necessidades objectivas, experiências e aspirações
no futuro democrático de Portugal.
As
comemorações dos 40 anos da Revolução de Abril devem pois afirmar em todo o
País a indignação e mostrar claramente a recusa pelo que estão a fazer aos
portugueses, a Portugal, à sua história e ao seu futuro,
Não
há contas a ajustar com Abril!
Pela
democracia, pela liberdade, pela paz, pelo desenvolvimento de Portugal!
Viva a Revolução de Abril!