João Pedro Sequeira
(Jurista e Ex-deputado)
Mobilizar as regiões para mobilizar Portugal
Partilho com a maioria dos portugueses a convicção de que a
leitura política que António Costa fez dos resultados das eleições europeias e
da sua responsabilidade perante o PS e o País estava e está correta. António
Costa veio dar resposta a um sentimento de urgência que paira na sociedade
portuguesa. De urgência em voltar a acreditar no PS e em Portugal; em
qualificar e dignificar a atividade política; em apresentar uma alternativa
forte e credível à política de destruição social do Governo; em Mobilizar
Portugal em torno de um caminho de esperança e confiança no futuro.
Neste
quadro, tornou pública, recentemente, a moção política sobre as Grandes Opções
de Governo com que se apresenta às eleições primárias do Partido Socialista.
Este documento estabelece um “compromisso de confiança e estabilidade” para “um
Estado mais democrático”, assumindo sem rodeios a necessidade de desbloquear a
“democratização e a modernização do Estado ao nível das regiões do território
continental, ultrapassando o impasse resultante do referendo sobre as regiões
administrativas”.
Sabemos que as políticas de desenvolvimento regional são
decisivas para a promoção da coesão social, económica e territorial do País. No
entanto, a flagrante ausência de uma proposta e de uma ação política
estruturadas e adequadas tem conduzido ao agudizar das assimetrias e das
desigualdades regionais e a uma administração desconcentrada do Estado, confusa
e desarticulada, sem coordenação político-territorial ou racionalidade
estratégica.
Assim, a moção propõe o desenho de um novo modelo de
governação regional através da “gradual implementação de uma estrutura
regional” que conjugue um conjunto de requisitos (aceitação e identidade
histórico-cultural; escala territorial e populacional; dimensão crítica e
legitimidade democrática) e que tenha “presente a delimitação territorial das
comissões de coordenação e desenvolvimento regional” (CCDR) e a “evidente
necessidade de tratamento diferenciado das suas áreas metropolitanas”.
Mas não se pense que o documento estratégico de António
Costa se fica pela enunciação programática. A moção define medidas concretas
para a implementação do novo modelo de governação regional: a descentralização
de competências para as CCDR; a democratização das CCDR, com a eleição dos
respetivos órgãos de governo por todos os autarcas de cada região; e a criação
de verdadeiras autarquias metropolitanas com competências efetivas nas Áreas
Metropolitanas de Lisboa e do Porto.
Ora aqui estão novidades programáticas e medidas concretas
determinantes para a construção de um novo modelo de governação e de uma
verdadeira agenda para o desenvolvimento regional. Porque só mobilizando as
regiões e as suas forças vivas é que se consegue mobilizar Portugal. (JN 01/09/2014)
(imagem de ANDRÉ CARRILHO)